“O profissional de Comunicação Corporativa passou a ser mais eclético, reunindo formações e experiências em comunicação e em administração de empresas”. Esse é o olhar de Belmiro Ribeiro da Silva Neto, coordenador/professor de Comunicação Corporativa e de Gestão e Comunicação de Risco e de Crises na FGV, sobre a necessidade do perfil de quem atua em comunicação corporativa.
Além desse dia a dia repleto de tarefas, em parceria com as demais áreas da empresa, o comunicólogo executa seu trabalho que compreende nove atividades: Reputação Corporativa, Propaganda Corporativa, Comunicação Interna, Comunicação com os Investidores, Comunicação com o Governo, Comunicação sobre Responsabilidade Social, Comunicação com a Mídia, Comunicação de Risco e Gestão e Comunicação de Crises para que o seu trabalho ganhe apoio, repercussão e atinja resultados positivos.
Em entrevista EXCLUSIVA para o canal Fábrica de Palavras, o professor Belmiro Ribeiro da Silva Neto, revela como as empresas podem (e devem) trabalhar a sua reputação, a necessidade de investir em comunicação nos momentos de crise interna ou financeira, entre outras dicas importantes para a imagem das companhias.
1 – Como criar uma reputação corporativa que seja sustentável ao longo do tempo?
O papel da Comunicação Corporativa é o de zelar pela governança e reputação da empresa moderna e faz isso por meio do alinhamento interno das ações de comunicação realizadas pelos seus diversos setores, de modo que essas tenham qualidade e a coerência necessárias para gerar, nesta ordem, identidade, imagem e reputação sustentáveis e favoráveis. O objetivo final da governança e da reputação é proporcionar longevidade e maior competitividade mercadológica à empresa junto aos seus diversos públicos.
Um bom exemplo disso é o do Itaú Unibanco, que continua se comunicando com coerência e elegância ao longo dos anos a relação de custo benefício que proporciona aos seus clientes, empregados, fornecedores e acionistas. Não tenho dúvidas que o principal ingrediente de seu sucesso é a adoção de boas práticas de governança corporativa que permitem a realização de uma comunicação consistente e sustentável.
2 – Em seu livro ‘Comunicação Corporativa e Reputação’, você menciona que as empresas brasileiras ainda se preparam pouco nessa área. Qual o primeiro passo para que elas possam reverter esse quadro?
Sim, ainda estamos caminhando gradualmente nesse particular aqui no Brasil. É uma pena, pois todas as empresas, sejam elas públicas ou privadas, BTC ou BTB, precisam zelar por sua governança e reputação e comunicar bem com seus públicos.
Um primeiro passo para reverter esse quadro é convencer os dirigentes a entender os benefícios e investir na função. Talvez demonstrar que ações de comunicação podem gerar impactos positivos nos resultados financeiros ou na participação de mercado da empresa. Um bom exemplo poderia ser a captação de recursos da empresa no país e no exterior. A parceria entre o pessoal de Finanças e o de Comunicação Corporativa permite a elaboração de ótimas apresentações e treinamento dos executivos para interlocução com os investidores, analistas e jornalistas. É impensável atuar nesse mercado sem um trabalho de comunicação profissional. Outro exemplo poderia ser o de preparar a empresa para evitar crises.
3 – Professor, a Fundação Getúlio Vargas considera a Comunicação Corporativa uma função da Administração de Empresas e não somente uma forma específica de se fazer comunicação. Para você, que diferença há em considerá-la da Administração?
Hoje a Comunicação Corporativa tem um escopo mais abrangente e ganhou status de função no mesmo nível de outras funções, como Marketing, RH, Jurídico ou Operações. O profissional de Comunicação Corporativa agora se reporta ao presidente e está envolvido nos processos de planejamento estratégico e de tomada de decisões gerenciais e contribui com informações relevantes nas análises e decisões da empresa envolvendo seus públicos e sua reputação.
4 – No caso da Petrobras e de outras empresas arroladas na Operação Lava Jato, como a área de Comunicação Corporativa poderia ter contribuído para a gestão de crise de imagem e reputação que se instaurou nessas companhias?
Muitas dessas empresas citadas, por razões diversas, demonstraram pouco ou nenhum apego à ética que é um dos pilares da boa governança corporativa. Comportamentos impróprios e planejamento precário projetam percepções negativas junto aos públicos e perdas de identidade, imagem e reputação.
Fica difícil realizar uma boa comunicação corporativa sem boas práticas de governança corporativa.
No entanto, mesmo diante de situações como essas, o principal gestor da Comunicação Corporativa tem o dever profissional de identificar e alertar a alta direção quanto às vulnerabilidades existentes na empresa e que podem afetar negativamente a sua governança e reputação e recomendar planos de ação para resolver problemas com potencial de gerar crises.
Vejo que muitas dessas empresas estão demitindo empregados, realizando ações de comunicação desencontradas, sem saber administrar, responder e resolver suas crises.
5 – Em época cada vez mais comum das crises de imagem no mundo digital, como manter a reputação das empresas em tempos de comunicação multiplataforma?
Gostei imensamente da estratégia de defesa de reputação adotada pela TAM para o caso do “vidente da paulista”. A Gislaine Rossetti, diretora de comunicação corporativa, e o seu colega diretor de operações, acompanhados por jornalistas convidados, embarcaram no avião que segundo o vidente iria colidir com um prédio da Avenida Paulista. Foi uma resposta rápida e coerente da empresa atestando a segurança de seus serviços e que neutralizou a divulgação desmedida que a predição estava tendo nas mídias sociais.
Por outro lado, fico imaginando como uma estratégia de comunicação mais acertada e ágil poderia ter ajudado a Unilever a administrar, responder e resolver rapidamente o caso do suco contaminado que lhe causou grande prejuízo de imagem e de receita.
6 – A percepção que os funcionários têm da empresa tem impacto na qualidade do seu trabalho e na imagem externa?
A cultura ou identidade de uma empresa é onde o funcionário vai buscar motivação para realizar seu trabalho. A cultura precisar refletir o posicionamento estratégico da empresa e sofrer atualizações periódicas. Alguns valores, como tradição, qualidade dos produtos e serviços, imagens positivas conquistadas junto ao público, mudam com menor frequência e quando acontece é sempre para melhorar ou ganhar alguma vantagem competitiva. Outros valores, como, posicionamento estratégico, portfólio de produtos e serviços, áreas de atuação, maior atenção aos públicos internos e externos em relação à concorrência, são mais frequentes, já que implicam em respostas aos desafios do mercado.
Há diversas técnicas para obter o engajamento dos funcionários. A mais relevante a meu ver é uma boa liderança, treinada e motivada para conduzir o público interno a atuar conforme os valores culturais da empresa. É importante destacar que é uma ação que deve ser originada no nível mais elevado da organização, vir de cima para baixo carregada de muita determinação para dar certo. Igualmente importante é a realização de pesquisas para verificar como a empresa é percebida pelos funcionários.
7 – Como mostrar às empresas a importância dos profissionais de Comunicação Corporativa em tempos de crise financeira? Isso porque, muitas vezes, a área e as consultorias são as primeiras a sofrer com o corte de investimentos.
Na minha opinião, as empresas que cortam investimentos em comunicação em tempos de crise devem fazê-lo principalmente por não saberem os benefícios que a função pode trazer para a empresa mesmo em tempos difíceis ou porque o trabalho realizado por seu pessoal de comunicação não justifica mantê-lo.
O objetivo final da governança e da reputação é proporcionar longevidade e maior competitividade mercadológica à empresa junto aos seus diversos públicos. Talvez uma das formas de mostrar a importância seja estabelecer métricas de desempenho e mostrar resultados aos dirigentes.
8 – Em sua opinião que formação um profissional deve ter para atuar com Comunicação Corporativa (tanto em relação à graduação e pós)?
Como mencionado, as atividades de Comunicação Corporativa exigem análise, planejamento e capacidade de interlocução com as demais áreas da empresa, além de trabalho em equipe e gestão de pessoas, e é preciso contar com profissionais ecléticos, com sólida experiência em gestão e formação em administração de empresas e em comunicação. Além de um português impecável, o inglês é imprescindível.
A formação desse profissional pode passar por graduação e pós- graduação em comunicação e administração de empresas, na ordem que for possível, e uma boa dose de experiência em empresas e agências. Além disso, é recomendável realizar periodicamente cursos de atualização em boas escolas do país e do exterior.
Quem é Belmiro Ribeiro da Silva Neto?
Belmiro Ribeiro da Silva Neto é graduado pela EAESP/FGV e Mestrado pela Fordham University of New York (1977). Desde 1992, é professor de Marketing da EAESP/FGV e coordenador/professor de Comunicação Corporativa e de Gestão e Comunicação de Risco e de Crises no GVPEC. Ocupou posições de executivo e consultor em Marketing e Comunicação Corporativa em grandes empresas nacionais e internacionais de 1970 a 2001, como Monsanto, Klabin e Philip Morris. Desde 2002, é sócio gerente da BRSN – Comunicação Empresarial Ltda, firma especializada em treinamento em Gestão e Comunicação de Risco e de Crises. Autor e coordenador do livro “Comunicação Corporativa e Reputação: Construção e Defesa da Imagem Favorável”, editora Saraiva, 2010.